sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Certezas e o valor do criminoso

Confesso que sempre acreditei que quem tivesse razão, estaria certo;
que quem fosse bom, não praticaria o mau; quem tivesse certeza, estaria seguro; quem fosse doutor, saberia mais que os outros; que quem fosse apaixonado por uma causa justa, jamais seria seduzido pelo poder; que só existia o que pudesse ser comprovado pela ciência; que a justiça era um remédio genuíno para os culpados...

De verdade, o que encobrem essas certezas? 

O que seria a incólume certeza, senão um disfarce da insegurança? O que seria a razão, senão uma possível incapacidade de ver sob outro ponto de vista? O que seria essa necessidade de comprovação científica, senão o medo do invisível?

Quem não gosta de garantias? Quem não prefere acusar a ser acusado? Quem gosta de ser o fracassado? Se não houvesse um culpado, como nos destacaríamos, ou nos justificaríamos? Talvez seja para garantir, pelo menos a aparência dessas certezas, que os erros e os atos criminosos provoquem intensamente a manifestação pública. 


"Olhem como ele agiu? Que miserável! Tenho certeza que já vem agindo dessa forma há tempos. Inadmissível. Deve ser punido com rigor!" Dizemos em alto e bom som, porque parecemos bons e melhores.

Aquele que cometeu o erro talvez nos legitime como melhores cidadãos, embora não necessariamente sejamos, só tenhamos a vantagem de não ter sido pego odiando em flagrante, desejando o mal, desdenhando alguém, ou torcendo para que tudo acabe, ou pelo simples fatos de nossos crimes não estarem previstos na lei. 

Talvez seja por esses disfarces que o crime nos compense.

           

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