segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Como aprendi alemão

Quando cheguei à Alemanha, o meu nível de fluência do idioma era A2.2 (ou com boa vontade um B1 precário). Os testes constatavam isso claramente.  Em termos de fluência oral, quando as pessoas falavam na rua ou na loja, eu não entendia nem mesmo os diálogos mais simples. Era constrangedor.

Só o fato de estar na Alemanha não garante que a pessoa aprenda alemão. Conheci vários estrangeiros que não falavam alemão ou que "se viravam nos 30", e, na hora de aprofundar um assunto utilizavam o inglês. Eu queria aprender alemão de verdade! 

Para isso, era importante ter em mente: "como eu aprendo", "quanto tempo estou disposta a doar para o idioma". Na era da internet, é fácil se iludir com um app de idiomas e achar que vai dominar a nova língua em x semanas. 

Não existe mágica para aprender, existe vontade e sacrifícioEu aprendo, lendo e escrevendo, e levo um tempo para associar o conhecimento necessário. Por isso, eu me afastei (e me afasto) da internet sempre que quero aprender algo. Eu leio e escrevo o que aprendi. Eu explico para alguém o que aprendi. Internet, exercícios virtuais, vídeos são ótimos para confirmar a compreensão oral e auditiva do estudante de idiomas, porém, não garantem o aprendizado, pelo menos não o meu.

Pesquisei sobre der, die, das (o que originou o post sobre gênero), e fiz questão de aprender os dativos e acusativos. Usei aquelas musiquinhas do Frère Jacques: aus, bei, mit, nach, von, zu, seit, gegenüber…; escrevi inúmeras frases com dativos e acusativos no caderno. Para isso, escolhi uma gramática para fazer do início ao fim. 

Com relação à declinação dos adjetivos, fiz um resumo que me dava mais segurança tanto na hora de escrever quanto de falar: 


"Der kleine Wagen - ein kleiner Wagen";
"Das alte Motorrad - ein altes Motorrad";
"Die glatte Straße - eine glatte Straße".
"Die Chinesischen Autos - Chinesische Autos".

No acusativo, se começou com en, segue com en até o final. Ex.: ich habe einen kleinen Wagen. No dativo, wir fahren mit dem kleinen Wagen (em, seguido de en). No dativo feminino e plural, o adjetivo ganha o en no final: mit der schönen Frau, mit den schönen Frauen. 


Para garantir a ordem correta das palavras, na formulação da frase, segui (e sigo) fielmente a regra rigorosa, segundo os meus amigos alemães, do TEKAMOLO e do verbo na segunda posição. Tempo, caso, modo, local: gestern habe ich dir das Buch in der Schule gegeben. 


Eu queria estudar no Goethe o ano inteiro, porém, não era economicamente viável, pra mim. Por isso, esperei chegar a um nível mais avançado (B2.2) para fazer dois meses de curso no Goethe e aproveitá-lo, sem recorrer a outro idioma. O investimento valeu a pena; depois dei continuidade com a aula particular, uma vez por semana. A aula particular é útil se o professor, ou estudante, souber direcionar o que aprender. Caso contrário, pode-se limitar o vocabulário ou os assuntos, e se ficar conversando sobre o dia-a-dia. 

Toda oportunidade que eu tinha de puxar conversa no café, ou no trem, eu não me fazia de rogada, pedia informação, pedia para repetir, anotava a palavra ou a frase, explicava que eu estava aprendendo o idioma e que era importante compreender aquela palavra. Levava o meu dever de casa no trem e pedia para o vizinho do banco corrigir. De inúmeras tentativas, eu levei vários foras.

No entanto, também conheci pessoas fascinantes e, durante os dois anos na Alemanha, tinha a minha agenda frequentemente lotada, dentre almoços, cafés e happy hours. Eu só aceitava falar em alemão, nada de conversar em inglês ou espanhol. 

O meu fascínio pelo idioma ajudou bastante, porém nada disso teria peso suficiente, sem uma dose diária de disciplina e exercício. 

Por isso, eu me organizei para estudar todos os dias, meia hora por dia. Pode parecer pouco, entretanto, meia hora por dia, sem internet e sem smart phone, é suficiente para aprender qualquer assunto, desde que tenha continuidade. Tinha sempre na bolsa um livrinho de frases para ler. Se um dia falhasse o estudo, não havia problema, no dia seguinte, eu continuava com a meta da meia hora por dia, houvesse o que houver, e nunca adiava para depois de amanhã nem dizia "recomeço na segunda-feira".


Para me obrigar ao máximo de esforço, decidi escrever o texto "Der Schatz der deutschen Sprache" em alemão (dividido em quatro capítulos, publicado no blog), narrando o meu envolvimento com o idioma, com as palavras, com as pessoas e com a cultura alemã. Até a versão final do texto, escrevi 19 versões do artigo e aprendi mais do que imaginei. Eu pedi para todas as pessoas que eu conheci lerem o texto: vizinhos, amigos de café, amigos próximos, voluntários do Instituto Goethe etc. 

É assim que eu aprendo. E você? Já parou para pensar como você aprende? Quer realmente doar um pouco do seu precioso tempo para aprender o idioma? 



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