quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Visão além do alcance

Em tempos de incertezas amorosas, Joana seguiu os conselhos de um amiga e marcou um sessão com um astrólogo.
No encontro marcado, antes que o astrólogo começasse a falar, Joana apresentou-se.
“Eu me chamo Joana Dark. O sobrenome é alcunha que ganhei na adolescência, em razão de algumas paixões complexas. E era nesse ponto que eu queria chegar. Eu, enquanto Joana, funciono melhor morta do que viva. Vou explicar.
Morta de apaixonada. Adoro esse estado, porque tudo faz sentido, as cores combinam, os fatos do dia são engraçados, nem parece que existe rotina. É como se eu fosse superiora; e as pessoas se chateassem à toa. Vejo tudo com um cintilante. Você consegue perceber essa nuance no meu mapa?
Claro que viver nesse estado de “morta” tem os altos e baixos; qualquer frustração pode virar um vendaval, um furacão ou até mesmo um sofrimento sem fim, sem volta. Chego, às vezes, a me humilhar para manter um relacionamento; bebo só porque o garoto bebe; isso pra dizer o mínimo; a propósito, não gosto de cerveja. Essa tendência de submissão é visível no meu mapa?

Tenho um discurso e porte de liberal, mas é só fachada, pois cheguei a uma fase que quero me aquietar; já nem falo mais de me sentir morta de paixão; quero um projeto de vida, acertado e estável. Aparece alguém aí? Se você quiser, eu conto tudo o que está acontecendo, para você ter uma ideia.
Por exemplo, tem um cara no meu trabalho que eu sinto que a gente tem a ver. Nós temos o mesmo cargo; a gente fez faculdade e MBA no mesmo ano; ele já me chamou pra almoçar; ele é atraente, eu também. As nossas mães nasceram em Minas, acredita? Você acha que é coincidência, ou algo astral entre nós?”

.”

“Tem certeza? Porque com esse cara do meu trabalho está pintando um clima; ele é todo fofo; deixou de sair com um amigo dele, na quinta-feira passada, para ir à festa do presidente da empresa, comigo, no meu carro. Isso sem falar que emprestei dinheiro pra ele; já há uma intimidade. Acho que vai dar namoro; é só uma questão de dar mole. Sabe quando você sente algo aqui dentro? Disse Joana, fazendo um movimento circular com a mão na região do tórax.”

O astrólogo examinou novamente o mapa e repetiu:

.”

“Tem certeza que não aparece uma pessoa, do trabalho? Porque eu desconfio que esse cara é o homem da minha vida.”
                                          

***


“Joana, como foi a ida ao astrólogo?” Perguntou a amiga que o recomendou.

“Ele não falou nada de interessante; aliás, ele quase não falou.”

“Às vezes, acontece. Alguma novidade?”

“Sabe aquele carinha do trabalho? Ainda não houve nada de concreto, mas a gente já comunga de uma intimidade; eu empresto dinheiro pra ele; até meu carro já emprestei, para ele visitar a avó, em Minas, no feriado. Ninguém resiste uma paixão como a que a gente está sentindo. Por isso, eu sinto que é só uma questão de tempo. Você vai ver.”

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